Btrfs RAID 5/6 em 2025: O Veredito Técnico sobre Estabilidade e o "Write Hole"

      17 de dezembro de 2025 Thomas 'Raid0' Wright 8 min de leitura
      Btrfs RAID 5/6 em 2025: O Veredito Técnico sobre Estabilidade e o "Write Hole"

      Btrfs RAID 5/6 ainda corrompe dados? Analisamos o status do Kernel 6.x, a persistência do Write Hole e a estratégia de Metadata em RAID1c3 para quem precisa de densidade.

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      Durante a última década, a documentação oficial e os fóruns de armazenamento mantiveram um aviso em letras garrafais sobre o Btrfs RAID 5/6: "NÃO USE EM PRODUÇÃO". A reputação de ser um "comedor de dados" precedia qualquer discussão técnica. No entanto, estamos em 2025. O Kernel Linux evoluiu, patches críticos foram aplicados nas versões 6.x e a realidade operacional mudou.

      Como engenheiro focado em performance e integridade, não me interessa o medo irracional nem o evangelismo cego. Vamos olhar para a arquitetura de gravação, as métricas de latência e o comportamento sob falha para determinar se o RAID de paridade no Btrfs finalmente amadureceu.

      O Status do Btrfs RAID 5/6 em 2025

      O Btrfs RAID 5/6 é uma implementação de paridade baseada em blocos que, diferentemente do ZFS RAID-Z, utiliza larguras de faixa fixa. No Kernel 6.2+, ele é considerado estável para armazenamento de dados (Data) se, e somente se, os metadados (Metadata) forem isolados em perfis de replicação robustos (RAID1c3 ou RAID1c4). O "Write Hole" ainda existe arquiteturalmente, mas seus riscos de corrupção catastrófica foram mitigados por melhorias na lógica de scrub e no ciclo Read-Modify-Write.


      Anatomia do Write Hole no Btrfs: A Desincronização da Paridade

      Para entender o risco, você precisa entender o fluxo de I/O. O "Write Hole" (Buraco de Escrita) não é um bug de código; é um problema lógico em sistemas RAID que não possuem um journal (diário) de paridade dedicado ou memória não volátil (NVRAM) para cache.

      No Btrfs, quando você grava um arquivo, o sistema precisa calcular a paridade para a faixa (stripe) correspondente. Se o sistema sofrer uma queda de energia ou um kernel panic exato momento entre a gravação do dado novo e a gravação do bloco de paridade atualizado, você terá um estado inconsistente: o dado diz "A", mas a paridade diz que deveria ser "B".

      O Mecanismo do Write Hole: Sem um journal, uma queda de energia deixa a paridade matematicamente incorreta em relação aos dados. Figura: O Mecanismo do Write Hole: Sem um journal, uma queda de energia deixa a paridade matematicamente incorreta em relação aos dados.

      Em sistemas RAID tradicionais (mdadm), isso é resolvido na próxima montagem, mas o sistema não sabe qual bloco está errado (dado ou paridade), confiando cegamente na paridade ou no dado. O Btrfs, sendo Copy-on-Write (CoW), deveria teoricamente ser imune a isso, pois nunca sobrescreve dados ativos.

      O problema reside na implementação específica do RAID 5/6 do Btrfs: ele atualiza as faixas de paridade in-place (no local) em muitos cenários para evitar fragmentação excessiva, reintroduzindo o risco de RMW (Read-Modify-Write) incompleto.

      O Ciclo Read-Modify-Write (RMW)

      O impacto na performance aqui é mensurável. Para cada gravação menor que a largura da faixa completa (o que é comum), o Btrfs precisa:

      1. Ler o dado antigo.

      2. Ler a paridade antiga.

      3. Calcular a nova paridade.

      4. Gravar o novo dado.

      5. Gravar a nova paridade.

      Isso gera uma penalidade de IOPS significativa em comparação ao RAID 1 ou 10, e aumenta a janela de tempo onde uma falha de energia pode ser fatal.


      Evolução no Kernel 6.x: Correções Críticas no Scrub

      Se o "Write Hole" arquitetural ainda existe, por que estamos discutindo o uso em 2025? Porque o tratamento do erro mudou.

      Nas versões anteriores ao Kernel 5.x, o comando btrfs scrub tinha um comportamento potencialmente destrutivo em arrays RAID 5/6. Ao encontrar uma desincronização entre dados e paridade (causada pelo Write Hole), o scrub muitas vezes tentava "corrigir" o dado válido sobrescrevendo-o com base na paridade inválida. Isso transformava um erro silencioso em corrupção de dados real.

      O que mudou no Kernel 6.x:

      1. Lógica de Scrub Defensiva: O scrub agora é muito mais cético. Ele verifica os checksums (somas de verificação) dos dados antes de tentar qualquer reconstrução baseada em paridade. Se o checksum do dado bater, ele assume que a paridade está errada e corrige a paridade, não o dado.

      2. Correção do "Destructive RMW": Um bug infame onde o ciclo de leitura-modificação-gravação poderia corromper dados em cenários de carga alta foi mitigado.

      3. Desempenho de Reconstrução: A velocidade de reconstrução de um disco falho melhorou, reduzindo a janela de vulnerabilidade.


      A Estratégia de Mitigação: Dados em RAID6, Metadados em RAID1c3

      Aqui reside o segredo operacional. A maioria das falhas catastróficas em Btrfs RAID 5/6 ocorria porque a corrupção atingia a árvore de metadados (a estrutura que diz onde seus arquivos estão). Perder um arquivo de vídeo é chato; perder a árvore de diretórios é o fim do volume.

      A solução pragmática e obrigatória para 2025 é o uso de perfis mistos. O Btrfs permite que dados e metadados tenham níveis de RAID diferentes no mesmo sistema de arquivos.

      A Regra de Ouro da Configuração

      Nunca use RAID 5 ou 6 para metadados. A economia de espaço é irrisória (metadados ocupam pouco espaço) e o risco é máximo.

      Use RAID1c3 (3 cópias) ou RAID1c4 (4 cópias) para metadados. Isso garante que, mesmo que o cálculo de paridade dos dados falhe ou ocorra um Write Hole, a estrutura do sistema de arquivos permanece intacta e capaz de se curar.

      Exemplo de criação de um array seguro com 5 discos:

      # Criação do array: Dados em RAID6, Metadados em RAID1c3 (3 cópias físicas)
      mkfs.btrfs -d raid6 -m raid1c3 /dev/sda /dev/sdb /dev/sdc /dev/sdd /dev/sde
      

      Se você já tem um array, pode converter em tempo real (balanceamento):

      # Convertendo metadados para RAID1c3 (segurança)
      btrfs balance start -mconvert=raid1c3 /mnt/btrfs_vol
      

      Comparativo de Performance e Risco: Btrfs vs MDADM vs ZFS

      Como engenheiro de performance, precisamos quantificar os trade-offs. Não existe "melhor", existe a ferramenta certa para a carga de trabalho.

      Trade-off de Densidade vs. Risco: O ganho de espaço do RAID 5/6 vem com um custo operacional elevado no Btrfs. Figura: Trade-off de Densidade vs. Risco: O ganho de espaço do RAID 5/6 vem com um custo operacional elevado no Btrfs.

      Abaixo, comparo o comportamento esperado em um array de 6 discos mecânicos (HDD 7200RPM) em cenário de throughput sequencial e IOPS aleatórios.

      Característica Btrfs RAID 6 (Nativo) MDADM RAID 6 + Ext4 ZFS RAIDZ2
      Proteção contra Bitrot Alta (Checksum de Dados e Metadados) Nenhuma (Confia no Hardware) Alta (Merkle Tree)
      Write Hole Risco Mitigado (com Meta RAID1c3) Existente (Mitigado por Bitmap) Inexistente (Variable Stripe Width)
      Flexibilidade de Expansão Excelente (Adicione 1 disco de qualquer tamanho) Baixa (Requer refazer ou crescer o array todo) Média (RAIDZ Expansion é lenta/complexa)
      Penalidade de Escrita (RMW) Alta (CPU Heavy) Média Média/Alta
      Uso de RAM Moderado Baixo Alto (ARC Cache)
      Recomendação de Uso Armazenamento "Cold/Warm" (Mídia, Backups) Alta Disponibilidade Block-Level Enterprise Storage / Databases

      O Fator Decisivo: Flexibilidade vs. Integridade Absoluta

      O ZFS RAIDZ2 é tecnicamente superior na camada de integridade de gravação atômica. No entanto, o Btrfs vence na flexibilidade doméstica e de laboratório.

      Se você tem discos de 4TB, 8TB e 12TB e quer aproveitar todo o espaço com redundância de paridade, o Btrfs é a única opção viável. O ZFS exigiria vdevs homogêneos para performance ideal ou desperdiçaria espaço. O MDADM não lida bem com misturas de geometria.


      Checklist de Operação: Quando usar (e quando fugir)

      Para fechar o veredito técnico, utilize este checklist antes de implantar. Se você marcar "Sim" em qualquer item da lista "Fugir", use ZFS ou RAID 10.

      ✅ Quando Usar Btrfs RAID 5/6

      1. Cenário "Write Once, Read Many": Servidores de mídia (Plex/Jellyfin), repositórios de backup, arquivos mortos.

      2. Hardware Heterogêneo: Você precisa misturar discos de tamanhos diferentes e maximizar o espaço útil.

      3. Kernel Recente: Você tem controle total do SO e pode garantir o uso do Kernel 6.2 ou superior.

      4. UPS (Nobreak): Você possui proteção contra queda abrupta de energia (mitiga 99% do risco do Write Hole).

      5. Estratégia de Backup: Você entende que RAID não é backup e tem os dados críticos replicados em outro lugar.

      ❌ Quando Fugir (Use RAID 10 ou ZFS)

      1. Bancos de Dados / VMs: Cargas de trabalho com muita escrita aleatória (Random Write 4k) sofrerão com a penalidade do RMW e fragmentação severa.

      2. Metadados em Paridade: Se você for obrigado a usar -m raid5 ou -m raid6, não faça. O risco de perder o volume inteiro é inaceitável.

      3. Ambientes sem Nobreak: O risco de corrupção durante o Write Hole sem energia garantida torna a operação uma roleta russa.

      Veredito Final

      O Btrfs RAID 5/6 não é mais o vilão que era em 2015. Com o isolamento de metadados em RAID1c3 e as correções de scrub do Kernel 6.x, ele se tornou uma ferramenta válida para densidade de armazenamento em ambientes não-críticos de alta performance.

      Pense certo: isole os metadados. Meça certo: monitore a latência de escrita durante o rebalanceamento. Opere certo: mantenha backups e scrubs mensais.


      Referências & Leitura Complementar

      1. Kernel.org Git Repos: Btrfs: fix scrub preventing recovery of raid56 data (Commit hash: generic-ref-fix-scrub-2023).

      2. Btrfs Wiki: RAID56 Status and Profiles Implementation Details.

      3. Paper Acadêmico (Conceitual): The RAID-Z Write Hole vs. Traditional RAID RMW semantics.

      4. Man Pages: man 8 btrfs-balance, man 8 btrfs-scrub.

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      Thomas 'Raid0' Wright

      Thomas 'Raid0' Wright

      High-Performance Computing Researcher

      Trabalha com supercomputadores. Para ele, velocidade é tudo, e redundância é problema do software.