Intel VROC vs Hardware RAID: A Realidade do Desempenho NVMe

      19 de dezembro de 2025 Sarah 'The Backup' Connor 10 min de leitura
      Intel VROC vs Hardware RAID: A Realidade do Desempenho NVMe

      VROC é Hardware RAID? Vale a pena pagar pela chave de licença? Analisamos a arquitetura Intel VMD, gargalos PCIe e quando abandonar controladoras tradicionais.

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      Se você ainda está desenhando arquiteturas de storage NVMe usando os mesmos princípios da era SAS/SATA, você está jogando dinheiro e IOPS no lixo. A introdução do NVMe não foi apenas um aumento de velocidade; foi uma mudança fundamental na topologia de conexão entre a CPU e os dados.

      Durante décadas, fomos condicionados a confiar na "placa RAID" dedicada com sua bateria de backup (BBU) e cache on-board. Era a rede de segurança do Sysadmin. Mas quando falamos de NVMe, essa controladora física se tornou o maior gargalo do seu servidor.

      A Intel introduziu o VROC (Virtual RAID on CPU) como a resposta para esse problema, prometendo desempenho de hardware sem o hardware dedicado. Mas quanto disso é engenharia real e quanto é marketing para vender chaves de licença? Vamos dissecar a arquitetura, ignorar o hype e olhar para os caminhos de dados.

      O que é Intel VROC?

      Intel VROC (Virtual RAID on CPU) é uma solução de armazenamento híbrida que utiliza o recurso de hardware Intel VMD (Volume Management Device) integrado ao controlador PCIe da CPU para gerenciar drives NVMe. Diferente do RAID de hardware tradicional, ele não processa a lógica RAID em um chip dedicado, mas usa os ciclos da própria CPU principal, eliminando a necessidade de uma controladora HBA física e permitindo acesso direto às pistas PCIe para reduzir a latência.


      O Gargalo do Barramento DMI e o Fim das Controladoras Tradicionais

      Para entender por que o VROC existe, você precisa fazer a matemática de largura de banda. Uma controladora RAID topo de linha moderna geralmente se conecta à placa-mãe via um slot PCIe Gen4 x8 ou x16.

      Um único SSD NVMe Gen4 x4 pode entregar cerca de 7.000 MB/s de leitura sequencial. Se você colocar quatro desses drives em um array:

      • Demanda Potencial: ~28.000 MB/s.

      • Gargalo da Controladora (x8 Gen4): ~16.000 MB/s (teóricos).

      Você acabou de castrar o desempenho dos seus drives pela metade apenas por insistir em usar uma controladora física. Além da largura de banda, há o problema da latência. Uma controladora RAID tradicional é um "homem no meio" (Man-in-the-Middle). O dado sai da CPU, atravessa o barramento DMI ou PCIe até a controladora, é processado, entra no buffer da controladora e só então vai para o disco.

      O Caminho dos Dados: Comparando o gargalo da controladora física (HW RAID) com o acesso direto às pistas PCIe da CPU (VROC). Figura: O Caminho dos Dados: Comparando o gargalo da controladora física (HW RAID) com o acesso direto às pistas PCIe da CPU (VROC).

      Com NVMe, a latência do meio físico (NAND) é tão baixa que o overhead do protocolo e do hardware intermediário se torna estatisticamente relevante. O objetivo do design moderno é conectar o drive diretamente às pistas PCIe da CPU (Direct Attach). É aqui que o modelo tradicional colapsa.

      Arquitetura Intel VROC: Entendendo o VMD no Ecossistema NVMe

      Muitos administradores confundem VROC com um simples "Software RAID" glorificado. Embora a execução da paridade seja feita por software (instruções da CPU), há um componente de hardware crucial: o Intel VMD (Volume Management Device).

      O VMD é um controlador lógico dentro do Root Complex da CPU (na arquitetura Xeon Scalable). Pense nele como uma "sub-controladora" invisível que agrupa pistas PCIe.

      O que o VMD resolve na prática:

      1. Agrupamento de Endereços: Sem VMD, cada drive NVMe aparece como um dispositivo PCI individual (/dev/nvme0n1, /dev/nvme1n1, etc.) espalhado pelo barramento. O VMD os agrupa em um único domínio de endereçamento.

      2. Gestão de Erros e Hot-Plug: O pesadelo do NVMe "Direct Attach" antigo era a surpresa na remoção. O VMD intercepta os eventos de hot-plug e as interrupções de erro no barramento PCIe, permitindo que o driver trate a remoção de um disco sem causar um Kernel Panic ou travar o barramento.

      3. LED Management: Parece bobo, mas em um datacenter, saber qual drive piscar quando falha é vital. O VMD padroniza isso.

      Portanto, o VROC é a camada de software (driver) que roda sobre a lógica de hardware do VMD.

      A Ilusão do Hardware: Por que VROC é Software RAID Híbrido

      Sejamos diretos: VROC não possui um processador ROC (RAID on Chip) dedicado. Quem calcula a paridade (XOR para RAID 5, ou polinômios de Reed-Solomon para RAID 6) é a sua CPU Xeon principal.

      Isso levanta a questão clássica: "Isso não vai matar minha CPU?"

      Na era dos HDDs rotacionais, isso era uma preocupação válida. Hoje, com CPUs de 24, 48 ou 64 núcleos, o custo de calcular paridade é trivial comparado ao benefício de remover o gargalo de I/O. O VROC utiliza instruções AVX-512 para acelerar esses cálculos, tornando o impacto na CPU quase imperceptível em cargas de trabalho normais.

      No entanto, não se engane. O VROC é, funcionalmente, um Software RAID assistido por Firmware. Ele está muito mais próximo do mdadm do Linux do que de uma controladora PERC ou MegaRAID física.

      Aviso de Integridade: Diferente de uma controladora RAID com cache de 4GB e bateria (BBU), o VROC usa a RAM do sistema. Se a energia cair e você não tiver uma UPS, os dados em trânsito (write hole) no RAID 5/6 podem ser corrompidos. O VROC tenta mitigar isso com "Dirty Stripe Journaling", mas isso tem penalidade de performance.

      Batalha de Latência NVMe: VROC vs Hardware RAID vs ZFS

      Onde o VROC realmente brilha ou falha? A resposta está na latência e na compatibilidade do SO.

      Trade-offs de Latência e Overhead: Onde o VROC se posiciona entre o Hardware RAID tradicional e o Software RAID puro. Figura: Trade-offs de Latência e Overhead: Onde o VROC se posiciona entre o Hardware RAID tradicional e o Software RAID puro.

      Comparativo de Arquiteturas de Storage

      Característica Hardware RAID (Tri-Mode) Intel VROC Software RAID Puro (ZFS/mdadm)
      Custo de Hardware Alto (Placa + BBU + Cabos) Médio (Licença/Dongle) Zero (Incluso no SO)
      Latência Média (Overhead da controladora) Baixa (Caminho direto PCIe) Baixa (Caminho direto PCIe)
      Throughput Limitado pelo slot PCIe da placa Limitado apenas pela CPU/DMI Limitado apenas pela CPU
      Proteção Power-Loss Excelente (Cache BBU) Depende da UPS do Rack Depende de ZIL/SLOG e UPS
      Portabilidade Ruim (Requer mesma controladora) Ruim (Requer plataforma Intel) Excelente (Qualquer hardware)
      Bootável? Sim, transparente Sim, via UEFI Complexo (Depende do Bootloader/OS)

      Para um sysadmin Linux purista, o mdadm ou ZFS geralmente supera o VROC em flexibilidade. Você não fica preso a um fornecedor. Porém, o mdadm não sabe gerenciar o LED de falha no backplane do servidor Dell/HPE nativamente sem scripts obscuros, e o boot via ZFS root ainda é uma aventura em algumas distros.

      O VROC preenche essa lacuna: ele oferece a integração de hardware (LEDs, Boot, Hot-plug estável) com a velocidade do software RAID.

      O Custo Oculto do VROC: Licenciamento, Dongles e Bloqueio de Vendor

      Aqui é onde o meu ceticismo aumenta. Tecnicamente, o VROC é código rodando na CPU. Mas a Intel decidiu segmentar o recurso através de chaves de hardware (Dongles) ou chaves de licença na BIOS.

      Para usar RAID 0 ou 1 (Pass-through), geralmente é gratuito (VROC Standard). Mas se você quiser RAID 5 ou 10, precisará comprar uma chave "Premium" ou "Intel SSD Only".

      1. A armadilha do "Intel SSD Only": Algumas licenças VROC funcionam apenas se você usar SSDs da Intel. Se você tentar economizar comprando Samsung ou Micron, o array pode não subir ou ficar em modo degradado.

      2. O Dongle Físico: Em 2024, ainda estamos plugando pecinhas de plástico na placa-mãe para desbloquear uma funcionalidade de software. Se esse dongle falhar ou se você trocar de placa-mãe e esquecer de movê-lo, adeus acesso aos dados.

      Isso cria um Vendor Lock-in perigoso. Com ZFS ou mdadm, eu posso pegar meus drives, plugá-los em um servidor AMD EPYC e importar o pool. Com VROC, eu estou casado com a plataforma Intel Xeon.

      Cenários de Decisão: Quando o VROC é a Única Opção Viável para NVMe

      Apesar das críticas, existem cenários onde o VROC não é apenas bom, é a única escolha profissional sensata.

      1. Servidores Windows Server / Hyper-V

      O Windows tem um suporte atroz para Software RAID nativo (Espaços de Armazenamento Diretos - S2D - é complexo para setups pequenos, e Discos Dinâmicos são tecnologia legada e lenta). Se você precisa de um RAID 1 redundante para o drive de C: (Boot) em um servidor Windows NVMe, o VROC é a melhor opção. Ele apresenta um volume lógico único para o instalador do Windows.

      2. VMware ESXi / vSphere

      O ESXi não suporta software RAID. Ponto final. Ele espera ver um dispositivo de bloco único. Historicamente, isso nos forçava a usar controladoras RAID de hardware. Com o VROC, podemos usar drives NVMe e apresentar um volume redundante para o ESXi. É o caso de uso "matador" do VROC. Sem ele, você não tem redundância local em NVMe no ESXi (exceto usando vSAN, que é outra conversa e custo).

      3. Dual-Boot e Workstations

      Se você tem uma workstation de alta performance que precisa bootar tanto Linux quanto Windows e compartilhar um volume RAID de alta velocidade, o VROC resolve isso na camada de BIOS/UEFI.

      Diagnóstico Rápido: Você tem VMD ativo?

      Se você está em um servidor Linux e quer saber se o VMD está interceptando seus drives, não procure pelos drives NVMe diretamente no lspci tradicional, procure pelo controlador VMD:

      lspci -nn | grep -i vmd
      
      # Se o VMD estiver ativo, os drives NVMe estarão "atrás" dele no domínio PCI.
      # Verifique a topologia:
      ls -l /sys/bus/pci/devices/*/driver
      

      Veredito Técnico: Pragmatismo acima de tudo

      Não use Intel VROC porque "é da Intel" ou porque parece moderno.

      • Use ZFS/mdadm se você roda Linux puro e quer portabilidade total e integridade de dados superior.

      • Use Hardware RAID apenas se você estiver preso a HDDs rotacionais ou SATA SSDs antigos onde a controladora não é gargalo.

      • Use Intel VROC se você precisa de RAID bootável em NVMe para ESXi ou Windows, ou se precisa de gestão simplificada de LEDs e Hot-plug em servidores corporativos sem sacrificar a latência do NVMe.

      O desempenho do NVMe é brutal. Não deixe uma decisão de arquitetura preguiçosa ser o freio de mão do seu servidor.


      Referências & Leitura Complementar

      1. Intel Virtual RAID on CPU (VROC) User Guide - Especificações técnicas sobre domínios VMD e chaves de licenciamento.

      2. NVM Express Base Specification (Revision 2.0) - Detalhes sobre o protocolo de transporte e manuseio de filas (que o VMD gerencia).

      3. VMware Knowledge Base (KB 2147620) - Configuração de Intel VMD/VROC para ambientes vSphere/ESXi.

      4. Linux Kernel Documentation: VMD Driver - Como o kernel Linux lida com a abstração do Volume Management Device.

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      Sarah 'The Backup' Connor

      Sarah 'The Backup' Connor

      Gerente de Recuperação de Desastres

      Seus dados não estão seguros até que ela diga que estão. Especialista em estratégias de backup imutável e RPO/RTO.