Write-back vs Write-through: Riscos e Benefícios Desmistificados

      6 de outubro de 2025 Elena Kovacs 9 min de leitura
      Write-back vs Write-through: Riscos e Benefícios Desmistificados

      O mundo do armazenamento de dados é cheio de compromissos. Uma das decisões mais cruciais que sysadmins, SREs e engenheiros de infraestrutura precisam tomar é c...

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      Write-back vs Write-through: Riscos e Benefícios Desmistificados

      O mundo do armazenamento de dados é cheio de compromissos. Uma das decisões mais cruciais que sysadmins, SREs e engenheiros de infraestrutura precisam tomar é como lidar com as operações de escrita. Especificamente, qual estratégia de cache de escrita usar: write-through ou write-back. Ambas têm seus próprios benefícios e desvantagens, e a escolha certa depende criticamente da sua workload e tolerância ao risco. Vamos mergulhar fundo em como cada uma funciona e como elas afetam a performance e a durabilidade dos seus dados.

      O Desafio da Escrita de Dados

      Enquanto a leitura de dados é geralmente uma operação simples, a escrita introduz uma camada extra de complexidade. Precisamos garantir que os dados sejam gravados de forma durável (que não sejam perdidos em caso de falha) e com performance aceitável. O problema é que esses dois objetivos muitas vezes estão em conflito direto.

      Imagine que você está escrevendo um arquivo em disco. A maneira mais segura de fazer isso é escrever os dados diretamente no disco rígido. Mas discos rígidos são lentos. A cada escrita, o sistema precisa esperar que a cabeça de leitura/escrita se mova para a posição correta e que o disco gire até o setor correto. Isso leva tempo.

      É aí que entram as estratégias de cache de escrita. Elas atuam como um buffer entre a aplicação e o dispositivo de armazenamento (disco, SSD, etc.), permitindo que a aplicação "pense" que a escrita foi concluída mais rápido do que realmente foi. Mas essa velocidade vem com um custo: o risco de perder dados se o cache for perdido antes de ser descarregado para o armazenamento persistente.

      Write-through Cache: Segurança em Primeiro Lugar

      A estratégia write-through é a mais simples e segura das duas.

      Como funciona:

      1. A aplicação solicita uma escrita de dados.
      2. Os dados são escritos simultaneamente no cache e no armazenamento persistente (disco, SSD, etc.).
      3. A aplicação recebe a confirmação de que a escrita foi concluída somente depois que os dados foram gravados com sucesso no armazenamento persistente.

      Diagrama comparativo de write-back vs write-through cache

      Em essência, a escrita é síncrona. A aplicação espera até que os dados estejam seguros no disco.

      Benefícios:

      • Durabilidade dos dados: Cada escrita é imediatamente refletida no armazenamento persistente, minimizando o risco de perda de dados em caso de falha do sistema. Se a energia acabar repentinamente, no máximo você perde a última escrita em andamento, mas não dados já confirmados.
      • Consistência dos dados: Como os dados são escritos tanto no cache quanto no armazenamento ao mesmo tempo, o cache e o armazenamento estão sempre sincronizados. Isso simplifica a recuperação em caso de falha.
      • Simplicidade: A implementação é relativamente simples, o que reduz a probabilidade de bugs e facilita a manutenção.

      Desvantagens:

      • Latência de escrita: A aplicação precisa esperar que a escrita seja concluída no armazenamento persistente, o que pode ser lento, especialmente com discos rígidos tradicionais. Isso pode impactar significativamente a performance geral do sistema.
      • Sobrecarga de I/O: Cada escrita gera duas operações de I/O: uma para o cache e outra para o armazenamento. Isso pode sobrecarregar o sistema de I/O, especialmente em workloads com muitas escritas.

      Modelo Mental: Imagine um mensageiro entregando uma carta (dados) diretamente no destino (armazenamento persistente) e fazendo uma cópia para si mesmo (cache) ao mesmo tempo. Ele não volta para te avisar até ter certeza que a carta chegou ao destino.

      Write-back Cache: Velocidade Acima de Tudo

      A estratégia write-back prioriza a performance em detrimento da segurança imediata dos dados.

      Como funciona:

      1. A aplicação solicita uma escrita de dados.
      2. Os dados são escritos apenas no cache.
      3. A aplicação recebe a confirmação de que a escrita foi concluída imediatamente, sem esperar que os dados sejam gravados no armazenamento persistente.
      4. Posteriormente, em algum momento futuro (determinado por algoritmos de cache), os dados do cache são "descarregados" (flushed) para o armazenamento persistente.

      Em essência, a escrita é assíncrona. A aplicação acredita que a escrita está completa muito antes de estar realmente segura no disco.

      Benefícios:

      • Latência de escrita: A aplicação não precisa esperar que a escrita seja concluída no armazenamento persistente, o que resulta em uma latência de escrita muito menor e uma performance geral do sistema significativamente melhor.
      • Coalescing de escritas: Múltiplas escritas para o mesmo bloco de dados podem ser combinadas em uma única escrita para o armazenamento persistente. Isso reduz a sobrecarga de I/O e melhora a eficiência. Imagine que você está editando um arquivo de texto e salvando-o várias vezes. Com write-back, o sistema pode esperar você terminar de editar e salvar apenas a versão final no disco.
      • Amortização de escritas: Pequenas escritas podem ser agregadas em escritas maiores, que são mais eficientes para o armazenamento persistente.

      Desvantagens:

      • Risco de perda de dados: Se o sistema falhar (queda de energia, travamento, etc.) antes que os dados no cache sejam descarregados para o armazenamento persistente, esses dados serão perdidos. Este é o maior risco associado ao write-back.
      • Complexidade: A implementação é mais complexa do que write-through, o que aumenta a probabilidade de bugs e dificulta a manutenção.
      • Consistência: Em caso de falha, o cache e o armazenamento podem ficar dessincronizados, o que pode levar a problemas de consistência dos dados.

      Modelo Mental: Imagine um mensageiro que anota a mensagem (dados) em um bloco de notas (cache) e te avisa imediatamente que a mensagem foi entregue. Ele pretende entregar a mensagem no destino (armazenamento persistente) mais tarde, mas se ele for atropelado por um ônibus no caminho, a mensagem se perde.

      Mecanismos de Proteção: Mitigando os Riscos do Write-back

      O risco de perda de dados com write-back é real, mas existem mecanismos para mitigá-lo:

      • BBU (Battery Backup Unit): Uma bateria que fornece energia ao cache em caso de falha de energia. Isso permite que os dados no cache sejam descarregados para o armazenamento persistente antes que o sistema desligue completamente. BBUs são comuns em controladoras RAID de alto desempenho.

        Warning: BBUs têm uma vida útil limitada e precisam ser substituídas periodicamente. Além disso, o tempo de vida da bateria pode ser afetado por altas temperaturas.

      • Supercapacitores: Uma alternativa às BBUs. Supercapacitores carregam e descarregam muito mais rápido do que baterias e têm uma vida útil muito maior. Eles também são mais tolerantes a altas temperaturas.

      • Journaling em Filesystems (EXT4, XFS): Filesystems com journaling, como EXT4 e XFS, mantêm um "diário" das operações de escrita. Se o sistema falhar antes que as escritas sejam concluídas, o filesystem pode usar o diário para "reproduzir" as operações e garantir a consistência dos dados. O journaling reduz drasticamente o tempo de recuperação após uma falha. Existem diferentes modos de journaling, com diferentes compromissos entre performance e segurança. Por exemplo, o modo ordered no EXT4 garante que os metadados sejam escritos antes dos dados, o que evita corrupção do filesystem em caso de falha.

      • fsync(): Uma chamada de sistema que força os dados de um arquivo a serem escritos no armazenamento persistente. Usar fsync() após uma escrita garante que os dados estejam seguros, mesmo com write-back cache habilitado. No entanto, usar fsync() com muita frequência pode degradar a performance. Bancos de dados geralmente usam fsync() para garantir a durabilidade das transações.

      Implicações para Bancos de Dados e VMs

      A escolha da estratégia de cache de escrita tem um impacto significativo em bancos de dados e máquinas virtuais (VMs):

      • Bancos de Dados: Bancos de dados geralmente exigem alta durabilidade dos dados. Perder uma transação pode levar a inconsistências e corrupção dos dados. Por isso, muitos bancos de dados usam write-through cache ou write-back cache com proteção de BBU ou supercapacitor. Além disso, eles usam fsync() para garantir que as transações sejam gravadas no disco antes de serem consideradas concluídas. A performance é importante, mas a integridade dos dados é fundamental.
      • VMs: A escolha depende do tipo de workload executada na VM. Para VMs que executam aplicações críticas, como bancos de dados, a durabilidade dos dados é crucial. Para VMs que executam aplicações menos críticas, como servidores web, a performance pode ser mais importante. Em ambientes virtualizados, a configuração do cache de escrita pode ser feita tanto no hipervisor quanto no sistema operacional convidado. É importante entender como essas configurações interagem para garantir o comportamento desejado.
        • Por exemplo, um hipervisor pode configurar o armazenamento subjacente para usar write-back, enquanto o sistema operacional convidado pode configurar seu sistema de arquivos para usar write-through. Nesse caso, o sistema operacional convidado pode acreditar que os dados estão seguros no disco, mas na verdade eles estão apenas no cache do hipervisor, o que ainda apresenta um risco de perda de dados.

      Escolhendo a Estratégia Certa

      Não existe uma resposta única para qual estratégia de cache de escrita usar. A escolha certa depende das suas necessidades específicas:

      • Priorize a durabilidade dos dados se:
        • Você está lidando com dados críticos que não podem ser perdidos.
        • Você está executando um banco de dados ou outra aplicação que exige alta integridade dos dados.
        • Você tem um baixo nível de tolerância ao risco.
        • Nesse caso, use write-through cache ou write-back cache com proteção robusta (BBU/supercapacitor) e fsync().
      • Priorize a performance se:
        • Você está lidando com dados que podem ser perdidos sem grandes consequências.
        • Você está executando uma aplicação que exige alta performance de escrita.
        • Você tem um alto nível de tolerância ao risco.
        • Nesse caso, use write-back cache sem proteção adicional. Mas esteja ciente dos riscos!
      • Considere uma abordagem híbrida:
        • Alguns sistemas permitem configurar diferentes estratégias de cache de escrita para diferentes volumes ou arquivos. Isso permite otimizar a performance e a durabilidade para diferentes workloads.
        • Por exemplo, você pode usar write-through cache para os arquivos de log do seu banco de dados e write-back cache para os arquivos de dados.

      Lembre-se de que a escolha da estratégia de cache de escrita é apenas uma parte da equação. É importante ter um plano de backup e recuperação robusto para proteger seus dados em caso de falha.

      O Que Levar Disso: Balanceando Performance e Durabilidade

      A escolha entre write-back e write-through é um clássico dilema de engenharia: um trade-off entre performance e segurança. Write-through garante a durabilidade imediata dos dados, mas penaliza a performance. Write-back oferece performance superior, mas introduz um risco de perda de dados.

      A decisão final deve ser baseada em uma análise cuidadosa das suas necessidades específicas, da sua tolerância ao risco e dos mecanismos de proteção disponíveis. Entender como cada estratégia funciona "por baixo do capô" é crucial para tomar uma decisão informada e construir um sistema robusto e confiável. Não há bala de prata: o segredo é o balanceamento.

      #Storage #Server
      Elena Kovacs

      Elena Kovacs

      Arquiteta de Cloud Infrastructure

      Focada em NVMe-oF e storage definido por software. Projeta clusters de petabytes para grandes provedores de nuvem.